Prémio para desenvolvimento de biomateriais com potencial terapêutico na infecção por Helicobacter pylori

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Prémio para desenvolvimento de biomateriais com potencial terapêutico na infecção por Helicobacter pylori

Quinta, 06.02.2014

Uma das Medalhas de Honra l’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência – uma iniciativa conjunta da l’Oréal Portugal, da Comissão Nacional da UNESCO e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia – foi atribuída este ano a Inês Gonçalves, investigadora do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) da Universidade do Porto. O projecto consiste em desenvolver um novo biomaterial capaz de eliminar a bactéria Helicobacter pylori, cuja persistência no estômago está associada ao cancro gástrico.

 

A ASPIC aproveitou a distinção para colocar algumas questões à investigadora sobre o seu trabalho:

- Que influência é que o seu projecto pode vir a ter no desenvolvimento do cancro do estômago?

O cancro gástrico tem sido associado à persistência da infecção provocada pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori) no estômago, sendo por isso comum a indicação para erradicação desta bactéria. O tratamento actual recorre ao uso de antibióticos, mas é ineficaz em 20% dos casos, deixando um número de pessoas que estimo em potencialmente 140 milhões sem solução alternativa. O objectivo do projecto é eliminar esta bactéria, através do desenvolvimento de novos biomateriais com forma de microesferas. Quando tomadas por via oral, deverão ligar-se às bactérias no estômago, removendo-as pelo trato gastrointestinal. Estas microesferas, produzidas a partir de um polímero natural e revestidas com glicanos, deverão constituir uma alternativa ao uso de antibióticos para eliminação de H. pylori, prevenindo assim o desenvolvimento de doenças gástricas associadas como o cancro do estômago.


- Como é surgiu esta ideia de desenvolver um novo biomaterial capaz de eliminar a bactéria Helicobacter pylori?

A ideia inicial surgiu em 2006 num projecto financiado pela FCT liderado pela Doutora Cristina Martins, do INEB. Numa primeira fase, em colaboração com o Doutor Celso Reis do IPATIMUP, demonstrou-se que era possível imobilizar glicanos em superfícies modelo de forma a aderir selectivamente estirpes de H. pylori. Numa segunda fase, em colaboração com a Doutora Paula Gomes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, comprovou-se a possibilidade de modificar quimicamente o quitosano com os glicanos. Por fim, em 2009 entrei no projecto e iniciei o meu trabalho de pós doutoramento no INEB e IPATIMUP a desenvolver as microesferas de quitosano revestidas com os glicanos, a testar a sua capacidade para adsorverem selectivamente H. pylori e a estudar a sua eficiência na remoção/prevenção da adesão desta bactéria a células e mucosas gástricas. Deste projecto nasceu um outro, recentemente financiado pela FCT e agora premiado com esta distinção da L’Oreal, onde tenciono redesenhar os biomateriais produzindo-os mais mucoadesivos e com diferentes tamanhos e porosidades de forma a remover as bactérias presentes nas diferentes zonas do estômago. Já que não existe nenhum modelo animal de pequeno porte para testar a eficiência destas microesferas e uma vez que o quitosano é um polímero natural biocompatível, a ideia será comprovar apenas a inexistência de toxicidade num modelo animal e depois fazer testes ex-vivo em mucosas de estômago humanas, e, idealmente, testar então a sua eficiência para remoção de H. pylori em humanos.