Associação Portuguesa de Investigação em Cancro
Prémio para desenvolvimento de biomateriais com potencial terapêutico na infecção por Helicobacter pylori
Prémio para desenvolvimento de biomateriais com potencial terapêutico na infecção por Helicobacter pylori
Uma das Medalhas de Honra l’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência – uma iniciativa conjunta da l’Oréal Portugal, da Comissão Nacional da UNESCO e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia – foi atribuída este ano a Inês Gonçalves, investigadora do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) da Universidade do Porto. O projecto consiste em desenvolver um novo biomaterial capaz de eliminar a bactéria Helicobacter pylori, cuja persistência no estômago está associada ao cancro gástrico.
A ASPIC aproveitou a distinção para colocar algumas questões à investigadora sobre o seu trabalho:
- Que influência é que o seu projecto pode vir a ter no desenvolvimento do cancro do estômago?
O cancro gástrico tem sido associado à persistência da infecção provocada pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori) no estômago, sendo por isso comum a indicação para erradicação desta bactéria. O tratamento actual recorre ao uso de antibióticos, mas é ineficaz em 20% dos casos, deixando um número de pessoas que estimo em potencialmente 140 milhões sem solução alternativa. O objectivo do projecto é eliminar esta bactéria, através do desenvolvimento de novos biomateriais com forma de microesferas. Quando tomadas por via oral, deverão ligar-se às bactérias no estômago, removendo-as pelo trato gastrointestinal. Estas microesferas, produzidas a partir de um polímero natural e revestidas com glicanos, deverão constituir uma alternativa ao uso de antibióticos para eliminação de H. pylori, prevenindo assim o desenvolvimento de doenças gástricas associadas como o cancro do estômago.
- Como é surgiu esta ideia de desenvolver um novo biomaterial capaz de eliminar a bactéria Helicobacter pylori?
A ideia inicial surgiu em 2006 num projecto financiado pela FCT liderado pela Doutora Cristina Martins, do INEB. Numa primeira fase, em colaboração com o Doutor Celso Reis do IPATIMUP, demonstrou-se que era possível imobilizar glicanos em superfícies modelo de forma a aderir selectivamente estirpes de H. pylori. Numa segunda fase, em colaboração com a Doutora Paula Gomes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, comprovou-se a possibilidade de modificar quimicamente o quitosano com os glicanos. Por fim, em 2009 entrei no projecto e iniciei o meu trabalho de pós doutoramento no INEB e IPATIMUP a desenvolver as microesferas de quitosano revestidas com os glicanos, a testar a sua capacidade para adsorverem selectivamente H. pylori e a estudar a sua eficiência na remoção/prevenção da adesão desta bactéria a células e mucosas gástricas. Deste projecto nasceu um outro, recentemente financiado pela FCT e agora premiado com esta distinção da L’Oreal, onde tenciono redesenhar os biomateriais produzindo-os mais mucoadesivos e com diferentes tamanhos e porosidades de forma a remover as bactérias presentes nas diferentes zonas do estômago. Já que não existe nenhum modelo animal de pequeno porte para testar a eficiência destas microesferas e uma vez que o quitosano é um polímero natural biocompatível, a ideia será comprovar apenas a inexistência de toxicidade num modelo animal e depois fazer testes ex-vivo em mucosas de estômago humanas, e, idealmente, testar então a sua eficiência para remoção de H. pylori em humanos.