Médicos Patologistas evidenciam "armadilha" no diagnóstico de cancro da próstata

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Médicos Patologistas evidenciam "armadilha" no diagnóstico de cancro da próstata

Terça, 04.06.2024

Médicos Anatomopatologistas demonstram que o marcador GATA3 pode ser expresso em adenocarcinoma da próstata metastático, constituindo uma importante “armadilha” diagnóstica.

 

O cancro da próstata é o cancro mais prevalente no homem em todo o Mundo. Clinicamente, há a necessidade de realizar um bom diagnóstico diferencial entre cancro da próstata e cancro da bexiga em homens de idade avançada, principalmente tendo em conta que o prognóstico e terapêutica a realizar são muito diferentes. A distinção entre cancro da próstata e cancro da bexiga nem sempre é fácil, pois a apresentação clínica, os achados imagiológicos e até as características histológicas podem ser sobreponíveis. Isto torna-se ainda mais problemático no contexto de metástases, em tumores pouco diferenciados. Os médicos Anatomopatologistas recorrem diariamente a painéis de imunohistoquímica para diferenciar estas entidades. A International Society of Urological Pathology (ISUP) recomenda a realização de um painel de imunohistoquímica alargado, incluindo o marcador GATA3, um factor de transcrição envolvido na diferenciação de vários tecidos, em particular do urotélio, o epitélio que recobre a bexiga. Apesar de ser utilizado na prática clínica como um biomarcador de cancro urotelial da bexiga, a expressão de GATA3 noutros tumores tem vindo a ser crescentemente demonstrada, pelo que este marcador poderá não ser tão específico como se previa.

 

O objectivo deste trabalho foi avaliar a prevalência da imunoexpressão de GATA3 especificamente em cancro da próstata metastático. O trabalho, liderado pela Prof. Dra. Cristina Magi-Galluzzi da University of Alabama at Birmingham (EUA), reuniu uma série de 163 cancros da próstata metastáticos provenientes de três centros: a University of Alabama at Birmingham, a Università Vita-Salute San Raffaele e o Serviço de Anatomia Patológica do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto). Verificámos expressão forte de GATA3 em 4 destes tumores (2,5%): duas metástases no fígado, uma no osso e uma num gânglio linfático não regional. Todos os tumores eram pouco diferenciados, com um Grade Group 5 ao diagnóstico.

 

Este trabalho, que contou com a participação de três elementos do Serviço de Anatomia Patológica e do Grupo de Epigenética e Biologia do Cancro do IPO Porto (João Lobo, Isa Carneiro e Rui Henrique) vem chamar a atenção para a necessidade de utilizar um painel de diagnóstico diferencial amplo. A utilização isolada do GATA3 para esclarecimento diagnóstico não é aconselhada, dado que este marcador pode ser expresso aberrantemente no cancro da próstata, levando a um falso diagnóstico de cancro da bexiga, com implicações no tratamento dos doentes. É necessário continuar a desenvolver biomarcadores sensíveis e específicos para o diagnóstico de cancros genitourinários. O contributo da Anatomia Patológica enquanto especialidade médica é fundamental para este trabalho de descoberta e validação de biomarcadores, permitindo oferecer os melhores cuidados aos doentes.


João Lobo 1 2 3, Nazario P Tenace 4, Sofia Cañete-Portillo 5, Isa Carneiro 1 2, Rui Henrique 1 2 3, Roberta Lucianò 4, Lara R Harik 6, Cristina Magi-Galluzzi 5

1Department of Pathology, Portuguese Oncology Institute of Porto (IPO Porto)/Porto Comprehensive Cancer Center Raquel Seruca (P.CCC), Porto, Portugal.

2Cancer Biology and Epigenetics Group, IPO Porto Research Center (GEBC CI-IPOP), Portuguese Oncology Institute of Porto (IPO Porto)/Porto Comprehensive Cancer Center Raquel Seruca (P.CCC) & CI-IPOP@RISE (Health Research Network), Porto, Portugal.

3Department of Pathology and Molecular Immunology, ICBAS - School of Medicine and Biomedical Sciences, University of Porto, Porto, Portugal.

4Department of Pathology, Università Vita-Salute San Raffaele, Milano, Italy.

5Department of Pathology, Heersink School of Medicine, The University of Alabama at Birmingham, Birmingham, AL, USA.

6Department of Pathology and Laboratory Medicine, Emory University School of Medicine, Atlanta, GA, USA


Aims: The distinction of high-grade prostate cancer (PCa) from poorly differentiated urothelial carcinoma (UC) can be somewhat challenging on clinical and morphological grounds alone, yet it is of great importance for prognostication and choice of treatment. GATA3 is a useful immunohistochemical marker to confirm urothelial origin. However, recent works report strong GATA3 immunoexpression in primary high-grade PCa. The aim of this study was to explore GATA3 expression specifically in metastatic PCa. Methods and results: The pathology databases of four tertiary institutions were queried for cases of metastatic PCa. Available slides and clinical records were reviewed by experienced genitourinary pathologists. Prostatic markers (PSA, PSAP, NKX3.1) and GATA3 immunohistochemistry were performed. A total of 163 metastatic PCa cases were included. At least one prostate marker was positive in each case of non-regional distant metastasis, confirming prostatic origin. GATA3 strong staining was found in four (2.5%) cases: two liver, one bone and one non-regional lymph-node metastases. All four patients had Grade Group 5 PCa at the initial diagnosis. The metastatic prostatic adenocarcinomas were solid, either with no gland formation (n = 3) or with only focal cribriforming (n = 1). Conclusions: To our knowledge, this is the first study exploring GATA3 expression specifically in metastatic PCa. Despite being infrequent, GATA3 positivity in high-grade PCa may lead to misdiagnosis, with clinical implications. We recommend a panel of immunohistochemical markers, both prostatic and urothelial, for ruling out UC, either in primary tumour samples or in the event of metastases of unknown primary, when a genitourinary origin is suspected.

Histopathology (10.1111/his.15094)