O custo do tratamento do cancro em Portugal

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O custo do tratamento do cancro em Portugal

Monday, 30.10.2017

Conhecer o custo do tratamento da patologia oncológica é crucial para a gestão das unidades de saúde e do sistema de saúde. Para além dos aspetos demográficos, o forte impacto na perda de produtividade e o aumento dos custos clínicos fazem do cancro uma prioridade. É urgente analisar os custos associados às doenças oncológicas, para permitir conhecer, comparar e controlar os custos e resultados, promovendo a transparência do sistema de saúde. O objetivo deste trabalho pode ser definido pela seguinte questão: quanto custa diagnosticar e tratar doentes com cancro em Portugal? No presente estudo, os custos do tratamento do cancro são estimados com base na prevalência da doença e apenas são considerados os custos clínicos diretos. São identificados, quantificados e valorizados todos os custos associados ao tratamento do cancro em ambiente hospitalar e em cuidados de saúde primários, repartindo-os pelas seguintes linhas de atividade: atendimentos e meios complementares de diagnóstico prescritos nos cuidados de saúde primários; atendimentos em ambulatório programado e não programado, sessões de hospital de dia para tratamento médico, radioterapia, internamento e medicamentos (quimioterapia/imunoterapia/hormonoterapia) em ambiente hospitalar. Relativamente aos cuidados hospitalares, recorre-se a várias fontes de dados de modo a obter a informação mais atualizada. A análise é alargada ao setor privado, incluindo algumas despesas privadas, para que os resultados não se limitem à perspetiva do financiamento público e se aproximem da perspetiva da sociedade portuguesa como um todo. Para obter os dados relativos aos cuidados de saúde primários recorre-se a um Painel Delphi modificado. Constata-se que o custo anual de tratamento do cancro em Portugal ascende a 867 milhões de euros, o que representa 5,5% da despesa total em saúde e 84 euros per capita. É de salientar que os medicamentos são o principal driver de custos e os CSP representam apenas 3,5% do total dos custos, ou seja é uma patologia tratada quase exclusivamente em meio hospitalar. No contexto atual do aparecimento de novas moléculas e outras tecnologias com potencial benefício terapêutico, de preços mais altos, este estudo é um contributo para dotar os decisores das políticas de saúde de informação credível sobre os custos de tratamento, permitindo uma mais correta alocação de recursos financeiros; para os hospitais, o conhecimento do custo dos componentes do tratamento constitui um importante instrumento de gestão e uma base de referência para estudos prospetivos, clínicos ou económicos; ao médico, para além da obrigação tradicional de procurar o “melhor para o seu doente”, compete-lhe, em geral, integrar a dimensão da análise custo-benefício de cada novo fármaco, contribuindo para a seleção das tecnologias realmente diferenciadas e inovadoras para os doentes e para a sociedade.


José Machado Lopes 1, Francisco Rocha Gonçalves 1, Marina Borges 1,2, Patrícia Redondo 1 e José Laranja-Pontes 1

1 Portuguese Institute of Oncology at Porto (IPO Porto), Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 4200-072 Porto, Portugal

2 ENSP-Universidade Nova de Lisboa, Av. Padre Cruz, 1600-560, Portugal.


O cancro é a segunda causa de morte em Portugal, onde 24,3% de óbitos se devem a tumores malignos. O forte peso económico e social do cancro, bem como o aumento dos custos do tratamento tornam-no uma prioridade. Para conhecer, comparar e controlar, promovendo a transparência no sistema de saúde, é premente analisar o custo das doenças oncológicas. Assim, este estudo estima o custo anual do tratamento do cancro em Portugal em 867 milhões de euros, o que corresponde a 5,5% da despesa total em saúde e a 84 euros per capita. Comparando os custos apurados neste estudo com os do único estudo português realizado em 2009 e com os do estudo europeu realizado em 2013 verifica-se um aumento de cerca de 300 milhões de euros no custo anual com o tratamento do cancro, o que poderá ser explicado pelo aumento da incidência e dos custos com medicamentos.

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http://ecancer.org/journal/11/765-the-cost-of-cancer-treatment-in-portugal.php